Glória Fácil...

...para Ana Sá Lopes (asl), Nuno Simas (ns) e João Pedro Henriques (JPH). Sobre tudo.[Correio para gfacil@gmail.com]

quarta-feira, maio 2

fundamentalismos

de cada vez que se discutem restrições ao tabaco e à sagrada liberdade dos fumadores de poderem fumar onde, quando e ao lado de quem lhes apetece, espera-se um impagável chorrilho de dislates. a enésima proposta de uma lei restritiva, hoje em debate no parlamento, não desiludiu.

os fumadores são tratados como 'criminosos', ouve-se. são 'perseguidos como párias'. são impedidos de exercer os seus 'direitos de cidadania'. são tratados 'como drogados' ou, melhor, pior que os 'drogados', porque a esses 'ninguém impede de se drogarem' (ouviu-se mesmo um conhecido comentador televisivo afiançar que há 'isenção de multa' para quem se droga). o fumo do cigarro 'é muito menos prejudicial à saúde e ao ambiente que os aviões e os carros e ninguém proíbe os aviões e os carros'.

valerá talvez a pena -- pelos vistos -- recordar que uma série de substâncias, entre elas os derivados da cannabis (haxixe e marijuana), a cocaína, a heroína, o ecstasy e muitas outras, são de consumo proibido. consumo proibido significa que não é legal comprá-las e muito menos vendê-las. vendê-las é aliás crime com direito a prisão, e consumi-las é um ilícito sujeito a contra-ordenação. isto é o que a lei diz. mas a questão que se deve colocar é: porque é que estas substâncias são de venda e compra e consumo proibido? a resposta é tudo menos evidente, até porque os motivos alegados para a proibição, que têm sobretudo a ver com danos que todas estas substâncias causariam à saúde do consumidor, estão longe de cientificamente certificados para todas elas e implicariam, com maioria de razão, que outras substâncias de uso recreativo e propriedades aditivas, como o álcool e o tabaco, tivessem o mesmo tipo de tratamento. tal não sucede, como se sabe. o que sucede é que substâncias de características semelhantes e perigosidades variáveis são tratadas de forma totalmente distinta pela lei e pela cultura.

proibir o consumo do tabaco numa série de circunstâncias e locais, como restringir o consumo de álcool em certas circunstâncias, é apenas aproximar a forma de tratamento das drogas legais daquela que tem sido aplicada em relação às drogas ilegais. é, digamos, uma questão de racionalidade.

ainda assim, é óbvio que a forma de tratamento dos vendedores de tabaco não é em nada equiparada à dos que vendem haxixe, ecstasy ou cocaína. como o estatuto dos fumadores de tabaco não é o mesmo do dos fumadores de haxixe ou dos snifadores de coca. estes últimos podem ser identificados pela polícia em qualquer lugar público onde lhes passe pela cabeça consumir, mesmo que dentro de um barracão abandonado e deserto. os outros, os fumadores de tabaco, só poderão ser alvo de qualquer acção das autoridades caso insistam em fumar nos locais onde tal é proibido, ou seja, nos locais públicos onde o acto de fumar prejudica terceiros.

não me vou dar ao trabalho sequer de refutar a idiotia do 'argumento' que equipara o cigarro ao avião e ao automóvel e que teria como conclusão lógica que se não se proibem os aviões então também não se podem proibir os cigarros.

o que eu gostava que algum dia os fumadores em geral fossem capazes de perceber é que eles, os fumadores, é que durante décadas restringiram, sem sequer perderem um segundo a pensar no assunto, os direitos de cidadania dos não fumadores. nos restaurantes, nas escolas (passei 4 anos na faculdade a fumar não sei quantos maços por dia à conta dos meus colegas que não conseguiam, coitados, passar uma hora e meia sem fumar os seus ciagarritos, dava-lhes nervos, ficavam mal dispostos -- e os que não fumavam que se lixassem), nos locais de trabalho e na minha própria casa, onde não me lembro de alguma vez algum amigo fumador se ter lembrado de me perguntar se o fumo me incomoda. não porque os fumadores que conhgeço sejam particularmente mal educados, mas porque todos os fumadores são, por definição mal educados pela sua insistência em considerar que fumar é um direito que têm, só porque sentem necessidade de o fazer.

lamento imenso: tenho a maior compaixão pelos viciados, mas o facto de terem um vício não lhes dá qualquer direito, a não ser, eventualmente, o de beneficiarem dos meus impostos para se tratarem, como sucede com os heroinómanos e os alcoólicos. o direito que não têm, decerto, é o de continuarem a agir como selvagens. é só disso, de lhes impor um comportamento civilizado, já que não conseguem impô-lo a si próprios, que trata esta lei. o diálogo não funcionou, nunca funcionou. aliás, nunca houve sequer diálogo. houve imposição de um lado e resignação do outro.

o fundamentalismo, no sentido da imposição selvática e da conversão forçada, esteve sempre do lado dos fumadores. leis como a que hoje se discute são apenas a legítima defesa das vítimas. tratá-la como uma vitimização dos fumadores é de risada.

(declaração de interesses: eu não fumo nem nunca fumei. neste blogue, sou a única)
|| f., 12:17

3 Comments:

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