Glória Fácil...

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quinta-feira, abril 26

deste mundo e dos outros

o joão miranda reagiu a um post meu de anteontem. desculpe, joão, mas só agora dei por isso. e confesso que lhe respondo mais por delicadeza que por vontade.

é que, joão, confundir qualquer cerimónia com uma missa e qualquer ideia ou ideologia com uma religião a benefício de um argumento único -- o de encontrar uma justificação para a presença do cardeal patriarca nas comemorações oficiais do 25 de abril e, note-se que era esse o fulcro da minha crítica, com estatuto idêntico ao dos presidentes da república (a simples presença do cardeal patriarca não é obviamente um óbice à separação entre estado e confissões religiosas; o que o é sem dúvida é a sua equiparação a figura de estado e, no caso, à mais alta figura do estado) -- é o tipo de coisa que não carece de contradita.

mas pronto, vá.

diz o joão miranda que a 'neutralidade do estado', que eu defendo em relação às confissões religiosas (eu e a constituição e a lei da liberdade religiosa, por acaso) deve existir em relação a qualquer ideologia. ó joão miranda. ou houve uma falta de luz para as suas bandas ontem (talvez mesmo um curto circuito, espero que não tenha havido danos irreparáveis) ou então deve estar a ensaiar anedotas novas.

portanto para o joão miranda um estado democrático e livre celebrar a liberdade e a democracia (é que, sabe, joão? há lugares onde não há uma coisa nem outra, e garanto-lhe que é muito desagradável) é a mesma coisa que dar loas a alá. caramba, joão. terei de lhe explicar que a democracia e a liberdade por definição não excluem ninguém a não ser os inimigos da democracia e da liberdade (e mesmo assim estes só se agirem contra elas, não por delito de opinião)? e que não há comparação possível entre uma cerimónia que celebra todas as possibilidades de pensamento e de vida e uma liturgia que prega um único caminho e uma única visão, condenando todos os outros e outras à exclusão?

terei de lhe explicar que qualquer religião organizada é por definição um sistema totalitário? e que uma celebração não é sempre um acto de fé, podendo ser, por exemplo, uma ocasião para confrontar ideias diferentes do que as coisas devem ser ou foram, visões diversas do passado e do futuro?

tenho de lhe chamar a atenção para o facto de uma celebração não implicar a imposição e veiculação de uma verdade única?

pelos vistos, tenho, joão.

como devo ter de lhe explicar que ao aceitar o lugar que o protocolo lhe oferece como único representante religioso numa cerimónia oficial e ainda por cima alcandorado a figura de proa do estado, o cardeal patriarca está a dizer que afinal lhe interessa o reino deste mundo, contrariando o fulcro dos ensinamentos do seu profeta maior.

(ah, é verdade: aquele fc que lhe apareceu na caixa de comentários não sou eu. acho que se vê logo, mas fiquei com a ideia de que o joão não viu).
|| f., 12:08

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