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sábado, janeiro 20

o juizo dos juizes, 2

lê-se e não se quer crer, vê-se e não ser acredita. a associação sindical dos juízes resolveu fazer um comunicado sobre o caso do sargento luís gomes, condenado a seis anos de prisão pelo sequestro de uma criança que criou desde os três meses, quando lhe foi entregue a ele e à mulher pela mãe biológica.

em defesa da decisão do colectivo de juízes de torres novas que condenou o sargento, a associação sindical decidiu 'esclarecer' as gentes, elencando uma série de 'factos'. curiosamente, os 'factos' dizem respeito não ao processo crime em causa mas ao processo de regulação do poder paternal, julgado e decidido por outro juiz que não os que deliberaram o acórdão criminal. dizem os juízes que é preciso trazer ao conhecimento das gentes, que eles vêem indignadas com a condenação e o seu peso, os 'factos'.

não todos, claro -- só os que os juízes consideram, na sua infinita e imparcial justeza, susceptíveis de criar dúvida e suspeição nas mentes das gentes face ao carácter do sargento.

alegando combater a superficialidade e a manipulação -- a 'visão distorcida' que a comunicaçãop social permitiu dos 'fundamentos da decisão do tribunal' --, a associação sindical vem a dar a sua versão, naturalmente autêntica e nada torcida, dos acontecimentos.

esta versão, mais uma vez naturalmente, baseia-se naquilo que os seus colegas deram como provado. aos juízes assim associados não ocorre, naturalmente, que nem sempre o que é dado como provado por juízes é verdade. acontece até haver julgamentos de juízes anulados por outros juízes por estes últimos considerarem que os primeiros deram como provadas coisas que nunca foram provadas ou que não podiam ser dadas como provadas. confuso, não é?

pois é. mas a associação sindical dos juízes não quer cá confusões dessas. e enquanto vai falando de recursos e de transparência e da legitimidade da crítica e do escrutínio às decisões judiciais, manda o seu presidente para a sic discutir o processo como se fosse tu cá tu lá com o sargento, a mulher, a mãe biológica e o pai biológico, assumindo a clara defesa da condenação e 'demonstrando' por a + b que o sargento e a mulher, ao acolher a criança e tratá-la como filha quando nem a mãe nem o pai a queriam, cometeram uma catrefada de crimes e de ilegalidades pelas quais merecem -- só podem merecer, a lei é para se cumprir, etc -- passar uns anitos à sombra. ainda bem que a associação sindical dos juízes confia que 'a solução final dos processos terá em conta, sobretudo, o superior interesse da menor'. E que espera que 'os tribunais, com transparência mas também com tranquilidade, saberão fazer uma avaliação correcta e ponderada deste importante caso judicial e humano'.

porque para quem lê o texto do comunicado e ouve o presidente da associação, só parece haver um caso humano em causa: o dos juízes.
|| f., 13:12

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