Glória Fácil...

...para Ana Sá Lopes (asl), Nuno Simas (ns) e João Pedro Henriques (JPH). Sobre tudo.[Correio para gfacil@gmail.com]

quarta-feira, setembro 20

esclarecimento, 1

li o texto integral da alocução de bento xvi disponível na agência ecclesia, aqui). não encontrei lá nenhuma fórmula de demarcação em relação à frase de manuel II citada. a versão que li, em inglês, limita-se a apelidar a forma como o imperador falou com o seu interlocutor como de 'startling brusqueness'. não sei se isto é, em alguma parte do mundo, uma 'demarcação'. dizer que o imperador foi surpreendentemente rude com o seu interlocutor não quer dizer que não tenha razão no que disse. atendendo a que o papa estava a usar essa citação como parte de um argumentário em que recusava a relação entre religião e violência, parece-me que poderia e deveria ter frisado que o monopólio da violência em nome da religião está longe de ser assacável em exclusivo ao islamismo. sendo a citação do século xiv, entre as cruzadas e a inquisição, é talvez um pouco infeliz passar tudo isso em branco. dir-se-á que o antecessor de bento pediu desculpa por tudo isso, portanto ça va sans dire. precisamente, 'dire' é uma escolha, e não creio que o actual papa, cuja inteligência nos foi tão louvada, seja um ingénuo, como alguns aventaram.

finalmente, surpreende-me que haja tanta gente a confundir esta discussão com uma discussão sobre a liberdade. é claro que não deve estar em causa a liberdade de ter opiniões menos simpáticas sobre a religião muçulmana, a sua história e os seus efeitos -- como não deve estar em causa ter opiniões menos simpáticas sobre a religião católica e a instituição que a defende e representa. simplesmente, não foi há muito que ouvimos essa mesma instituição admoestar os que exprimiam essas opiniões no caso dos cartoons, explicitando a necessidade de 'respeitar o sentimento dos fiéis' e não acicatar os ânimos. era bom que frei tomás fizesse o que diz, de vez em quando. é que, por mais que eu me esforce, não vejo nenhuma diferença entre a utilização da frase do imperador bizantino e aquele cartoon da cabeça do maomé transformada em bomba. a não ser que ao cartoonista ninguém, entre os muitos que se ergueram para defender bento xvi, deu a hipótese de dizer que estava a ser mal interpretado.
|| f., 11:16

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