Glória Fácil...

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domingo, outubro 2

O meu voto nas presidenciais

Um-dó-lita-bacalhau-batata-frita-quem-está-livre-está. É o que me apetece dizer.

Mas agora a sério: para um moderado de esquerda (moi) o panorama é confrangedor. Muito triste, mesmo. E portanto, para já a decisão é: não votar em ninguém. Suspeito fortemente que não mudarei de ideias até ao dia seguinte às eleições. Aliás, digo mais: uma Presidência de Cavaco Silva assusta-me muito pouco. Notem: não estou a dizer que votarei Cavaco; estou apenas a dizer que a sua eleição não me assusta.

Olhando para os quatros candidatos à esquerda, só há um remédio: ir por exclusão de partes. Façamos então esse caminho. Votar em Jerónimo ou em Louçã é opção exclusiva para militantes dos dois partidos ou seus simpatizantes ferrenhos (enfim, militantes não inscrito). As candidaturas de ambos são exclusivamente partidárias. Jerónimo avançou e o Bloco viu-se forçado a fazer avançar também o seu líder. Está em causa, apenas, a liderança do campeonato nesta espécie de II Divisão da esquerda. Ora essa não é a minha guerra. Em bom rigor, estou-me completamente nas tintas. Não deve ser nas presidenciais que se resolvem disputas partidárias. Em comum com Jerónimo ou Louçã, na batalha presidencial, só tenho uma coisa: uma certa indiferença face à eleição (ou não) de Cavaco. O que não é, nem pouco mais ou menos, uma razão para me decidir por um ou por outro.

E depois temos Alegre e Soares. E, aqui sim, é que a coisa se complica. Muito, muitíssimo. Já explicarei (o meu) porquê.

Tanto Soares como Alegre representam, para já, um sinal da trágica incapacidade de renovação da esquerda onde se filiam. Estão ambos há décadas demais na política para agora poderem ser candidatos mobilizadores. No caso de Alegre, enfim, pode-se, apesar de tudo elogiar a liberdade de ultraje à disciplina partidária implicada na sua candidatura. Mas, mesmo isso - que já elogiei - não chega para um projecto presidencial. Alegre deixou-se ultrapassar por Soares o que implicou para a sua candidatura uma única ideia: a de que se confirma apenas por vingança pessoal. Pode não ser assim - mas foi assim que se afirmou. E, conhecendo o deputado-poeta, suspeito que nada de verdadeiramente novo tenha para dizer ao país sobre a forma como vê o mandato presidencial. Quer dizer: não espero nada senão uma espécie de baralhar e voltar a dar do discurso que apresentou quando disputou com Sócrates a liderança do PS. Isto para além de ter uma ideia de Estado em que me revejo muito pouco.

Depois há Soares. O que mata esta candidatura é o deja vu que representa. Direi mesmo: o enjôo. Sabemos tudo sobre Soares. Sabemos demais, mesmo. O que foi, o que é, o que pensa, o que pensou - tudo, tudo, tudo. E que o sabemos não é, nomeadamente quanto ao exercício presidencial, uma coisa bonita de se ver. Recordo a forma perfeitamente abusiva como Soares interferiu na governação de Cavaco Silva, interferência que foi ao ponto de lhe vetar mexidas na orgânica governamental. E sabemos que Soares voltará a fazer o mesmo. E sabemos que nem o facto de ter um governo do PS o dissuade, pelo contrário, até o acicata, porque a sua relação com o seu partido é radicalmente diferente daquela que Cavaco mantém com o seu (relação de tutela versus relação de distância).
Não há como dar a volta: o momento do país não admite um Presidente sempre a bombardear a acção governativa. Isso é competência da oposição. E depois os eleitores decidem. Se Soares agora prometer e reprometer que deixará o Governo governar, esta só será mais uma promessa à Soares. Como aquela de deixar a política activa depois de deixar Belém; ou a outra de deixar a política activa depois de ser eurodeputado; ou ainda aquela - digo-o por antecipação - de regressar a Belém apenas por um mandato.

E pronto, é tudo. Ou talvez não.

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Nos últimos tempos tenho inventando as mais variadas razões para continuar a votar nos mesmos. Não sei se é o hábito se a demência…
VEJAMOS: - - votei Guterres porque, depois de tanta petulância, fazia bem à alma o ar conciliador dele;
- votei F. Rodrigues, que era feio, mas para evitar que a tareia fosse muito grande;
- votei Sócrates, porque era mais bonito e porque talvez….
- votarei Soares ou Alegre porque ver o Cavaco ganhar na 1ª volta faz-me azia….
Mas tenho algum receio que ele convença o Sócrates a adoptar aquela frase horripilante e que tanto feria a sensibilidade e a produtividade nacional: “Deixem-me trabalhar”…
E depois disso que desculpa vou eu inventar para continuar a votar no homem?
[Teresa G.]
|| JPH, 14:49

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