Glória Fácil...

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terça-feira, março 9

Jácome, André, Luís, Luís, Severo

Quem eu encontrei na ilha Terceira, e tinha olhos muito azuis, foi Jácome de Bruges, o fantasma do donatário. É a única certeza que tenho das viagens deste ano aos Açores: muito do resto é vago, impreciso, brumoso.
Morreram-me dezenas de palavras na Horta. Em Dezembro passado, numa ida rápida ao Faial, ficou lá mais meia-dúzia – não tive pena, as palavras inúteis devem desaparecer. Se morrerem no canal, morrem aos pés do fantasma de Margarida, a que queria ficar e queria partir, no mau tempo. Morrem em boa companhia. No bar do Peter, na única mesa de onde se vê o pico do Pico como deve ser, festejei a morte dessa palavras desnecessárias, confusas e toscas com água tónica e gin (muito pouco gin para a água tónica, como gozam os autóctones).
O Luís do Mal esclareceu, convincente, que não é o André. Bem me parecia. O rapaz que eu encontrei num porto de S. Jorge não percebia – e isso via-se logo – de educação sentimental. Era, porém, de confiança: o modo como olhava a Madalena denunciava-o. Os homens de confiança olham vagamente a ilha defronte.
Provavelmente, não era o André B. – embora ele não o tenha desmentido. Era de confiança, insisto, e tinha visto um touro cair à água no Cais do Pico. Pelo menos, era tanto de confiança como Severo, o da Graciosa, que, quando aportámos no meio de uma agreste tempestade, nos disse:
- Isto aqui é sempre assim e no Inverno é pior.
Fomos comer tubarão e chorar. Telefonei ao Luís, o médico hipocondríaco, à procura de consolo, embora eu soubesse de antemão que não se deve pedir consolo a hipocondríacos:
- O que é que eu faço aqui durante cinco dias?
- Lê. Não há nada para fazer, é um ‘stress’. Sei lá, dorme.
Quando, na madrugada seguinte, a luz intensa nos deu um pequeno-almoço feliz, contentámo-nos pela confiança depositada em Severo e em Luís, que, ao fim e ao cabo, nos proporcionou aquele prazer inesperado. A confiança tem dois gumes.


|| asl, 11:11

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